sábado, 3 de junho de 2017

Consumismo e tatuagem a metro

A pessoa entra no estúdio e diz que quer uma tatuagem que pegue o antebraço inteiro ( faz o movimento circular em volta do lugar com uma das mãos). Eu peço alguma ideia por onde começar a mostrar, a pessoa diz que não faz a menor ideia do que quer, só quer uma "bolada". Em algum momento, eu mostro uma Catrina e o cliente gosta. eu dou o preço, ele acha bom, mas ele não quer uma tattoo que pegue só parte do braço, ele quer uma que dê a volta no braço ( faz o movimento de novo). Explico que pra isso teria que colocar um fundo, fazer algo mais e aí ficaria mais caro...
E aí o cara pergunta se não dá pra esticar a Catrina em torno do braço dele. Aí eu faço um movimento com as mãos no rosto, esticando minha cara pra lá e pra cá.
- Você diz ASSIM?


Tem também gente que quer fazer uma tattoo gigante em uma hora. Porque tem que buscar os quatro filhos na escola e depois ir pro futebol.  A pessoa não é obrigada a entender nada de tatuagem, eu explico  o processo e simplesmente porque não dá pra fechar um braço em duas horas. Mas a pessoa parece que não escuta nada do que eu digo e começa a negociar o preço, talvez só o traço.. Eu digo que como ela trouxe a foto de tattoo, e não um desenho, eu teria que ajeitar no photoshop antes.. A pessoa negocia mais um pouco e eu começo a me perder no assunto. Não existe marcar horário. Se eu marco com a pessoa, vamos dizer.. 14hrs, ela acha que isso significa..que só chegar no mesmo dia tá bom.  Se eu digo que já comecei outra coisa, que infelizmente naquele dia não vou poder afazer.. Ela argumenta que ficou enchendo a cara a noite inteira, como se isso fosse desculpa.



Claro que também tem o cara que vem com os filhos, e enquanto as crianças ficam quietas desenhando ou lendo, o cara toda hora toma uma dose de cachaça e pede pra ir no banheiro de dez em dez minutos. O que já seria incômodo se ele não conseguisse segurar a bexiga, mas se torna irritante demais quando eu percebo que é pra cheirar cocaína. E claro que ele tem hora pra ir embora,a s crianças estão dormindo no sofá. A amiga da esposa vem fazer cosquinha no pé do cara enquanto ele tá deitado na maca. Flash de foto, luz de câmera, mão apoiada nas costas da minha cadeira, na maca. Eu  fico repetindo que não gosto de gente em cima de mim enquanto estou trabalhando, gente por cima das minhas costas, vou acabar derramando tudo. Claro que a pessoa cheia de álcool e pó na mente, esquece aquele em 5 minutos já tá fazendo toda aquela papagaiada de novo. Eu torno a chamar a atenção. O marido deitado na maca, cheio de pó na mente, começa a gritar e eu acho que ele vai levantar e bater na mulher.
- FULANA! PORRA! VAI LÁ PRA FORA! JÁ FALEI! TIRA A CICRANA DAQUI!.

Falando assim por alto, já dá pra perceber um monte de coisa errada na cabeça das pessoas. Mas eu vou me ater a um aspecto em particular: O consumismo. Em algum momento, uma mulher do Big Brother fez uma fênix nas costas, um jogador de futebol escreveu o nome de alguém no antebraço, a presença de Anitta fez três estrelinhas atrás da orelha.. E todo mundo achou que legalizou ter uma tatuagem. Porque apareceu na televisão, no palco, etc. E não adianta eu explicar que o relógio, o tênis, o perfume que ela compra,o smartphone,  tem uma máquina lá em Taiwan que faz um igual ao outro, vários por minuto, e que  ele já compra pronto. mas embora eu já tenha me acostumado a a trabalhar nesse esquema de tatuagem a metro, simplesmente tem certas etapas que não dá pra pular.
Eu tento pensar que a pessoa não tem culpa de ser insuportável. Que ela tá me pagando com dinheiro que ganhou fazendo algum trabalho chato pra cacete. Então, adas as circunstancias, tento fazer o melhor trabalho possível.




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